Documentário da vez:Privacidade Hackeada(2019)
Em uma polêmica montagem da linha temporal de como foi feita a campanha que culminou no maior experimento de manipulação de comportamento que foi a eleição dos EUA, e como isso pode ter definido um novo patamar. Seria legal? Seria apenas uma forma de evidenciar algo que ninguém falava? Ou realmente manipulação? Mas será que todas as perguntas foram realmente feitas? Confira a crítica desse documentário a seguir
Uma incompleta reflexão de nós como produto |
Nota IMDb: 7,1, (até o dia da postagem) (IMDb)
Título original: The Great Hack
Ano de Lançamento: 2019
Diretor: Karim Amer, Jehane Noujaim(Produtores do premiado The Square)
Estrelas: Brittaney Kaiser(que poderia ser fácil irmã do Dustin do Stranger Things, aqui é uma das pessoas chave no crescimento da suposta grande vilã: Cambridge Analytica), David Carroll(professor e pessoa que pediu uma coisa simples: direito de saber como os dados deles foram usados), Carole Cadwalladr(jornalista do The Guardian e alvo na campanha do Brexit), Paul Hilder(escritor tecnologico político), Mark Zuckerberg(que ainda se tem dúvidas se não é um android), entre outras pessoas envolvidas.
Sinopse: Com um nível inédito de eficiência, campanhas políticas em vários lugares do mundo, especialmente EUA e Inglaterra(Brasil também está na lista), o uso de dados ficou em cheque tanto no modo de obtenção, mas principalmente manipulação do comportamento. Como isso foi feito? É uma pergunta que já adianto que aqui nem tudo foi explicado.
Crítica: dissonantbr
Sinopse: Com um nível inédito de eficiência, campanhas políticas em vários lugares do mundo, especialmente EUA e Inglaterra(Brasil também está na lista), o uso de dados ficou em cheque tanto no modo de obtenção, mas principalmente manipulação do comportamento. Como isso foi feito? É uma pergunta que já adianto que aqui nem tudo foi explicado.
Crítica: dissonantbr
Há muito tempo atrás, havia um livro na minha casa, quando morava com os meus pais, minha nave mãe como costumo dizer, que sempre me chamou atenção chamado A Terceira Onda, de Alvin Toffler, escrito em 1980. O argumento dele era simples: de que havia ocorrido a primeira revolução que foi a Revolução Agrícola. Depois veio a segunda que foi a Revolução Industrial. E por fim haveria a chamada "Era da Informação", em que mente, informação, conhecimento e alta tecnologia iam se tornar os reais fatores de sucesso de grandes corporações. Ironicamente a chamada Quarta Onda, a chamada relacionada à sustentabilidade e o meio ambiente meio que ficaram no futuro alternativo ou que ficou presa na alfândega do que ainda vai acontecer.
Voltando ao documentário, o plot é acompanhar o professor David Carroll que decidiu se dedicar a estudar como foi possível a eleição americana de Trump(ok, muita gente já vai chiar aqui mesmo, porém calma que pode ser um interessante exercício) passando pelo funcionamento de Cambridge Analytica, também pela polêmica participação de Brittany Kaiser e alguns depoimentos como Mark Zuckerberg.
É um documentário interessante quando você alia a outras obras, como o já analisado aqui filme Brexit que está disponível na HBO, mas definitivamente peca, ou melhor, simplifica, e no fim acaba dizendo que a Analytica não vai ser a primeira nem a última a usar essas ferramentas. Quem observar com calma, vai perceber que o portfolio começou justamente com a eleição do Obama, e como citado no Brexit, a campanha contra a saída começou a tentar uma reação usando basicamente o mesmo método. E o que foi feito na eleição que perdeu? Seria essa a nova forma do marketing político? E essas práticas iriam encontrar limites em algum momento? Seriam as novas eleições no EUA e grandes nações mais alguns casos práticos futuros? E onde e o que estariam fazendo pessoas chaves da Cambridge?
Ironicamente, lembro-me bem que a propaganda era de que o marketing político seria mais eficiente, moderno, direcionado e permitira uma discursão mais ampla da democracia. O famoso expectativa vs realidade. Mas vamos aproveitar e explorar algo além do documentário.
Uma coisa que foi uma grande ausência desse documentário sem dúvida foi apresentar o chamado Capitalismo de Vigilância, termo cunhado pela professora Shoshana Zuboff, da Escola de Administração de Harvard que basicamente é o ganha pão dos gigantes do Vale do Silício que é a coleta, analise e manipulação por marketing para consumo e até orientação política/comportamental. Ou seja, sendo bem pragmático, como é que o Google ou Facebook é pago? ;) E aí voltamos ao inicio do documentário onde o professor pergunta se os alunos não já se encontraram em uma situação onde eles seriamente se perguntaram se algo que foi escutado pelos seus celulares não gerou um propaganda imediatamente proposta depois.
Também faltou citar Edward Bernays, citado no livro difícil de listar em uma pesquisa acadêmica, "F*deu Geral", justamente quando o autor explica como chegamos à polarização dos dias atuais. Segundo Bernays, que era sobrinho de Freud, e foi pioneiro no campo de relações públicas e propaganda(basicamente muita coisa que você viu de Mad Man é ou se inspirou na vida dele), as sociedades tem um comportamento de manada que faz com que as pessoas se comportem de forma irracional e que sejam manipuladas, ainda que elas raramente cheguem a conclusão de que acabaram de ter sido usadas. Isso poderia ter rendido muita coisa.
Outra coisa que fica para o espectador é avaliar o comportamento no mínimo curioso de Brittaney Kaiser. Ela teria aberto seus arquivos temendo consequências penais? Estaria ela avaliando que uma grande ofensiva contras as grandes empresas estariam começando? Seriam reações dos grandes governos? Ou uma crise de consciência pura e simples? (Eu aposto na primeira ideia).
Por fim duas ultimas reflexões: a primeira é de que apesar das multas e processos que o Facebook vive recebendo e fechando acordos, ela continua sendo uma grande e lucrativa empresa. Também vale lembrar que poucos se lembram que os sonhos políticos de Mark Zuckerberg foram pulverizados apesar da máquina imbatível que eles tinham. Quem ganha com isso? E outra pergunta que ficou longe do documentário foram os inúmeros episódios de cooperação entre empresas e governos. Google, Apple, Facebook têm vários notórios e obscuros capítulos de troca de dados e consultorias, não só nos EUA, EU, China e outros países. Tréguas são feitas convenientemente de acordo com interesses mútuos. Um exemplo é a clara ameaça nos EUA de divisão do Facebook e Google, tendo essas companhias deixado os serviços tão acoplados entre si para não permitir a divisão assim como aconteceu com a antiga AT&T. O quão imparciais seriam eles em futuros julgamentos?
Resumindo, é um documentário que termina perguntando se nós podemos ser manipulados, assim como a democracia, só que esquece de perguntar mais profundamente como e principalmente porquê. Uma simples vacina é reconhecer que não somos tão únicos assim e que o diálogo e compreensão com o colega de opinião diferente da minha é uma saída da bola. Desumanização, apatia e generalizações mereceriam uma longa explanação como ferramentas clássicas do Dividir para Conquistar. Vale a reflexão. Presente no NetFlix.
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