Anúncio 1

Últimos Posts

Filme da vez: 12 Anos de Escravidão


Nota imdb: 8,4 (até o dia da postagem):  (IMDB)
Título original: 12 Years a Slave
Ano de Lançamento: 2013
Diretor: Steve McQueen
Estrelas:  Chiwetel Ejiofor, Michael K. Williams, Michael Fassbender
Sinopse: Esta história, baseada em fatos reais, apresenta Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem livre que é sequestrado em 1841 e forçado por um proprietário de escravos (Michael Fassbender) a trabalhar em uma plantação na região de Louisiana, nos Estados Unidos.

Na verdade, eu acabei assistindo a este filme por acaso, pois fui ao cinema para ver outro que apresentou problema com a película e me ofereceram assistir à pré-estréia de 12 Anos de Escravidão. A outra opção seria assistir ao filme de animação do Lego. Então pensei: "Bom, o filme de escravidão recebeu várias indicações e está sendo aclamado por crítica e público, dessa forma não tenho como sair frustrado". Ledo engano. O texto a seguir reflete a minha opinião pessoal e talvez a minha reação negativa seja exagerada, mas não posso evitar.

A trama é baseada em fatos reais e situada na época da história norte-americana onde norte e sul tinham políticas diferentes em termos da escravidão. Ele conta a história de um homem negro e livre que é sequestrado de sua família e vendido para o sul como escravo, trazendo todo o sofrimento e a angústia passados por ele durante muitos anos de abuso e maus tratos.

O filme explora e expõe essa dor de forma poderosa. Na minha opinião, ele faz isso até bem demais. Se já não bastasse a tarjeta de "baseado em fatos reais", o fato de mais de 90% do filme retratar apenas a desgraça e o infortúnio do protagonista e de seus companheiros escravos chega a ser exagerado. Em poucos momentos me senti tão triste com um filme. Até mesmo durante A Lista De Schindler eu senti mais esperança. E o pior, ao meu ver, é o fato do protagonista não possuir uma consistência emocional: se entrega, se revolta, se acomoda, obedece. Ele não se apega a algo e se mantém firme a isso, sua esperança parece se manifestar de forma aleatória e isso deixa o espectador totalmente perdido. Não li o livro e não sei se tudo aconteceu desta maneira. Talvez essa tenha sido exatamente a intenção do filme: chocar o espectador com a crueldade da escravidão e o impacto devastador que isso causa na mente do escravo. Ou talvez o diretor estivesse tão focado em criar um "papa oscars" que pesou a mão.

A película está recheada de estrelas, com destaque é claro para o protagonista escravo (Chiwetel Ejiofor) e seu mestre mais cruel, interpretado por um excelente Michael Fassbender. O primeiro, apesar de ter entregue uma boa carga dramática, não conseguiu muito da minha simpatia por conta dos motivos explicados anteriormente. O segundo, no entanto, cumpre seu papel de forma magistral e se consagra como um dos "vilões" mais marcantes da história recente do cinema. Alguns outros nomes de peso também fazem aparições, sendo que em alguns casos parecem até participações especiais ou simplesmente um pagamento de uma dívida com o estúdio ou diretor, como no caso de Brad Pitt.

Não posso tirar, porém, os méritos do filme em termos de reconstrução histórica, direção de arte e fotografia. A qualidade técnica da película salta aos olhos, monta o cenário da época de forma magistral e é merecedora de reconhecimento e até premiações. A trilha sonora fecha essa equação e intensifica o tom chocante do filme.

Talvez essa minha recepção negativa ao filme tenha a ver com o momento que estou vivendo. Estou com um filho a caminho e tentando acreditar no potencial da raça humana e na esperança de um mundo melhor. Recebi um verdadeiro soco no estômago que me mostrou como podemos ser cruéis e causar mal uns aos outros e, infelizmente, muitas vezes apoiados em leis ou costumes descriminatórios. Se você procura ver algo assim e não se importa em assistir a mais de duas horas de muita desgraça e sofrimento ininterrupto, vá em frente. Eu, sinceramente, me arrependi de não ter escolhido o filme do Lego.

2 comentários:

  1. Um pouco de contexto. O tráfico de escravos nos EUA foi proibido em 1815, porém, tal como o Brasil, essa prática permaneceu até 1860, quando o norte do país tinha a campanha abolicionista muito forte. Foi nesse ano, com os republicanos(que ironia!) liderados por Abraham Lincoln, iniciaram consequências sérias da prática escravista que iriam culminar no inicio da Guerra Civil que iria de 1861 até 1865 entre União versus Confederados.
    No Brasil, por pressão da Inglaterra, o Brasil também viria proibir o tráfico em 1850 com a Lei Eusébio de Queirós, reduzindo os números e aumentando os preços dos contrabandiados. Em 1871 veio a Lei do Ventre Livre, e em 1879 o movimento abolicionista pegou momento e apenas em 13 de maio de 1888 a Lei Áurea foi publicada e zelou o destino da monarquia no Brasil.
    O meu pai sempre falou que não gosta de ver filme de drama e nem de terror. A lógica disso, segundo ele, é que ninguém deveria pagar para se assustar ou ficar mais triste. Porém, ele admite, há vezes que você simplesmente tem que encarar uma história que mostra uma face da nossa realidade. E sim, às vezes ir ao cinema com a missão de ver um filme triste é como ir ao dentista: vai doer, só que pode isso me fazer bem no final das contas.
    O filme retrata eventos que ocorreram entre 1841, com o sequestro do protagonista, Solomon Northup(interpretado por Chiwetel Ejiofor, de forma magistral) até a conclusão de sua desventura, em 1853. É um filme pesado, cruel, e muitas vezes deprimente. Mas eu considero como um regaste de lamentáveis eventos que nunca devem ser esquecidos. Como relatado no review do Independent(cuidado, há vários spoillers. Leia depois do filme http://www.independent.co.uk/arts-entertainment/films/reviews/12-years-a-slave-film-review-steve-mcqueen-forces-us--to-confront-the-brutality-of-slavery-9046111.html) , há sim paralelos entre o livro que foi bestseller nos 1850s e o Diario de Anne Frank. Ambos são relatos de sobrevivencia de pessoas que são reduzidas a coisas ou animais.
    O filme relata a visão até então vigente de "propriedade falante", tendo o momento mais pugente dessa linha de pensamento o momento quando o cruel senhor de engenho Edwin Epps(feito pelo excelente ator Michael Fassbender) diz:"There is no sin. A man does as he pleases with his property". E o personagem principal sofre justamente por insistir em se considerar uma pessoa, em insistir em ter esperança de voltar aos filhos e esposa. E tentar desesperadamente se ater a suas convicções.E é sucessivamente punito e , aí vem a palavra chave, condicionado a voltar a sua condição de coisa. Em sua relação dolorosa com a também escrava Patsey(com aquela que deve ganhar o oscar de melhor coadjuvante, Lupita Nyong'o) isso é testado ao limite. Até a religião é justificada para a situação que eles se encontram.
    O filme tem lá seus problemas, como mão talvez excessivamente pesada, trilha sonora praticamente irrelevante e talvez a possibilidade de um melhor uso da fotografia em alguns momentos do filme. Mas grandes interpretações , até de secundários como Paul Dano(fazendo o odiável Tibeats) e Brad Pitt fazendo um canadense, fazem valer esse filme de 2 horas e 14 minutos. Um mérito que deve ser dado ao filme é que ele não se joga a tentação de ser emotivo como os filmes do Steven Spielberg.
    E o que isso diz aos dias atuais? O alerta de que ainda persiste a diferença de tratamento entre povos, sendo o exemplo mais recente a exclusão de parte dos cidadãos europeus pela Suíça. É um filme que nos lembra de tempos sinistros e da utopia de sermos melhores seres humanos. Um relevante filme. Um filme obrigatório.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É isso aí, viva a diversidade! O mexido é democrático e está sempre aberto a opiniões diferentes!

      Valeu pelo comentário, co-editor!

      Excluir