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Filme da Vez:Medida Provisória(2020)

Em um absurdo, que infelizmente mais uma vez, é superado pela realidade, esse filme que tem dado muito o que falar, sofreu bastante para ser lançado e vem conseguindo ganhar cada vez mais debate. Confira virtudes e defeitos na crítica abaixo, naturalmente sem spoilers.


 

Entre a camada da ficção e realidade...está o Brasil...

Nota IMDb: 6,9 (até o dia da postagem) (IMDb)
Ano de Lançamento: 2020(e graças a problemas muito curiosos da Ancine, só agora chega ao circuito nacional)
Direção: Lázaro Ramos e Flávia Lacerda
Estrelas: Alfred Enoch(o britânico de alma bem brasileira, é de casa sim senhor, aqui como Antonio), Seu Jorge(como o esperto André), Taís Araújo(como a sábia Capitu), Adriana Esteves(como a burocrata engajada Isabel(outra ironia)), Mariana Xavier(como a atrapalhada, mas ponta firme Sarah), Renata Sorrah(como pessoa de "bem" Dona Izildinha), Emicida(como Berto), Plabo Sanábio(como Santiago), Diva Guimarães(como Elenita), entre outras estrelas.
Crítica: Dissonantbr

Lazáro Ramos aqui estreia na direção de um filme que sofreu vários processos, dificuldades e agora vem ganhando destaque nos cinemas, em pleno domínio do BlockBuster Dr Estranho 2, totalmente motivado pelo boca a boca e debate em vários círculos educacionais e culturais. Adaptado da peça "Namíbia, Não!", de Aldri Anunciação, lá de 2011, que já contava com a experiencia da direção de Lázaro, só que no teatro ganhou a atenção dele para adaptar para o cinema e atingir muito mais gente. De lá pra cá, muitas aventuras para conseguir financiamento, atores e trabalho no roteiro, o filme ficou pronto em 2019. E tal qual Estação Onze, o que era para ser um futuro distópico alternativo, acabou encontrando vários pontos de contato com a nossa realidade do dia a dia.

No filme, de uma simbólica indenização do dano da escravidão do Brasil, nasce uma suposta Medida Provisória 1888(que é um dos inúmeros easter eggs no filme, já que é o ano da assinatura da Lei da Abolição da Escravatura no Brasil), a qual determina que todos os de "melanina acentuada" fossem deportados para a África de um dia para o outro, tudo visto por uma família de um jovem casal formado por uma médica chamada Capitu(Taís Araújo) e o advogado Antonio(Alfred Enouch) e o seu primo jornalista André(Seu Jorge).

E sim, há alguns cacoetes típicos das produções Globo Filmes, como estranhos momentos como uma dança de todos felizes no apartamento(e que é essencial segundo o diretor, mas algo ainda falha em tela). E alguns momentos que há algumas escolhas estranhas de roteiro, como por exemplo... Se eu estivesse ilhado no meu apartamento e alguém finalmente conseguisse jogar algo nele, para ajudar,  que seja comida ou água e não atenção para um cartaz...:P E ainda que claramente, como em entrevista Lazáro já confessou espertamente, ele tenta se inspirar no cinema argentino que faz com maestria o cinema agridoce, alternando drama, comédia e algo entre esses mundos, evitando o erro muito comum no cinema brasileiro de só denuncia, aqui o diretor ainda sofre para fazer essas transições, como clara percepção de mudança de "marcha". 

Há grande potencialidades, seja no uso de mídias digitais e o governo, o país continental que é o país com seus vários povos, muito além das raças, a normalização da violência no nosso dia a dia, a passividade do Justiça e volatilidade ética do Legislativo dentro de um jogo maior, mas... tudo isso parece que ficou para outro momento, ou quiçá para não tirar o foco maior. Em entrevista Ramos reconhece que vem aí mais produções, com os aprendizados da jornada do Medida, tendo uma explosão maior de representatividade e refinamento. E claro, abrindo espaço ainda para mais gente.

Porque realmente o núcleo é uma mensagem (infelizmente)rara de convite reflexão importante para o Brasil, claro, inicialmente com uma sátira, mas principalmente com uma série de situações que quem já passou ou viu dificilmente deixa de se emocionar com o que se vê na tela. Seja quando finalmente entendemos a poesia que o André sempre tenta falar, seja pelo discurso de Capitu em uma parte do filme, há uma contribuição para o espectador que vai mais além de outras obras nacionais. E mais, é já desde lá da peça, essa é uma história que tem força inclusive internacional e que merece quiçá uma nova reencarnação em um outro idioma. Não é a toa que a cena que mais chama a atenção, quando André se pergunta como a gente fazia graça de algo que nos levou a uma tragédia. Ela faz parte de um quadro maior na obra.

Resumindo, mesmo com os problemas que devem ter sido fruto tanto da novidade, mas principalmente pelas tantas dificuldades de produção, o filme tem falhas e problemas de roteiro, não consegue tanto ganhar a medida certa de tragicomédia, contudo, se vê a mensagem forte e de estimulo(e dos três finais alternativos, é realmente o escolhido na versão final mais fiel ao sentimento de esperança em um futuro melhor), e o peso de ser mais um registro dos nos dias atuais. 

Se vê que ainda há um caminho a ser trilhado por Lazáro, e por um lado que bom, principalmente alguém que aprendeu tanto com grandes mestres como Jorge Furtado, Sérgio Machado e Spike Lee, todos inspiradores e que o leitor tem excelentes, e algumas obras bem pesadas aulas sobre o Brasil atual e nossa história. Disponível nos cinemas e muito em breve deve migrar para os streamings já já. Ah, há uma cena durantes os créditos!

Por fim, vale conhecer a música Paisagem do Emicida... Que fala bastante com o filme...





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