Curta letragem: A trilogia do Cavaleiro das Trevas de Nolan
Recentemente, eu adquiri a trilogia do Cavaleiro das Trevas em Blu-Ray e aproveite para assisti-los mais uma vez, agora com um olho mais atento ao conjunto da obra e aos temas desenvolvidos nos filmes. Apesar de já ter dito que não sou muito fã do realismo excessivo para um filme de super-herói, é impossível negar que Nolan escolheu o personagem perfeito para essa pegada e através da sua magistral trilogia criou um universo rico e fascinante para os fãs do cavaleiro das trevas. Segue a minha análise mais recente (E CHEIA DE SPOILERS!).
No primeiro filme, Batman Begins (2005), desde o início fica clara a intenção de tratar o herói de forma realista e embasar tudo o que acontece na película. A trama gasta sua maior parte na história de origem, que é centrada na ideia de Bruce Wayne dominando seus medos e canalizando seus traumas e raiva para se tornais mais do que um homem e criar um símbolo que o permita lutar contra a corrupção e a injustiça que assolam Gotham City. O Batman surge e se alia a Gordon e Rachel para derrubarem o crime organizado.
Com o herói já estabelecido, em O Cavaleiro das Trevas (2008) o cineasta apresenta dois grandes vilões da mitologia do homem-morcego: o Coringa e o Duas-Caras. O primeiro é um psicopata que não parece se atrair pelo dinheiro e busca apenas trazer o caos e provar que todos podem se transformar em vilões. E é em um ato de terrorismo seu que Rachel é assassinada e o promotor Harvey Dent se transforma no Duas-Caras. A temática de que qualquer pessoa pode fazer coisas terríveis é acentuada com a decisão de Batman em assumir a culpa da morte de Dent para que tudo o que eles lutaram não seja jogado fora. Aí fica clara a diferença do Batman para outros super-heróis e o retorno para o conceito criado no primeiro filme: como um símbolo, o Batman pode assumir a culpa e ter sua imagem manchada se isso significar salvar a cidade. O herói vira vilão e se transforma no Cavaleiro das Trevas.
No desfecho da trilogia, O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), Batman está recluso e a Gotham City vive na paz sustentada sobre a mentira que incriminou o homem-morcego. Surge um novo vilão chamado Bane, criado na mesma Liga das Sombras que treinou o Batman, trazendo anarquia à cidade tentando reduzi-la a cinzas. O filme é centrado na ideia de que o sofrimento só existe se as pessoas mantiverem a esperança de salvação, mesmo que ela seja artificial. O herói tem seu corpo e espírito quebrados e precisa recuperar seu medo para poder, através da auto-preservação, dar tudo de si e ressurgir das profundezas de sua alma para derrotar a ameaça à sua cidade. No final, Bruce se aposenta e fica uma dica de quem poderá substituí-lo, reforçando a ideia de Batman como um símbolo e não como um alter-ego de Bruce Wayne.
A trilogia do Cavaleiro das Trevas de Nolan conseguiu fechar o ciclo de Bruce Wayne como Batman de uma forma extremamente satisfatória, retratando toda a jornada de amadurecimento do herói e discutindo temas relevantes e sérios que antigamente se achava impossível serem retratados em um filme do gênero. Não vejo a menor chance de Nolan voltar ao universo que criou e torço para que o estúdio não tente continuar sem ele ou copiar suas ideias fora do contexto onde elas fizeram sentido. Que o Cavaleiro das Trevas de Nolan tenha seu descanso merecido em nossa memória depois de ter cumprido seu papel e entrado para a história do cinema.
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