Viajando na maionese: Os perigos do cinema lucrativo
Se quiser tirar uma foto ao lado do maior vilão das galáxias, vai custar só 20 doletas... |
Há muito tempo o cinema deixou de
ser apenas uma expressão cultural e artística para se transformar em um mercado
extremamente rentável. E como em todo empreendimento que envolva dinheiro, quase
sempre é preciso haver lucro para que um filme seja considerado bem sucedido. Além
de arrecadarem nas bilheterias, alguns filmes (principalmente as grandes
franquias) ainda geram um mercado paralelo de produtos licenciados. Claro que
isso não existiria se não houvesse uma grande demanda tanto para se comprar
ingressos como para adquirir os produtos derivados. Mas até que ponto essa
exploração afeta e corrompe a magia do cinema?
A necessidade de um filme dar
lucro ou pelo menos equiparar seus custos é completamente compreensível e seria
muita inocência criticar isso, pois temos muitas pessoas envolvidas em sua
produção e é preciso cobrir os gastos com material e pessoal. Em produções
pequenas e independentes, esta necessidade é muito menor devido ao pequeno investimento.
Mas quando falamos em super produções hollywoodianas, os chamados “blockbusters”,
com orçamentos que ultrapassam as centenas de milhões de dólares, esta
obrigação de lucro gera muito mais pressão sobre os envolvidos e, muitas vezes,
faz com que a qualidade final de um filme deixe de ser a principal prioridade. Como
resultado, ainda que um filme seja ruim, se o lucro for alto podemos ter
inúmeras continuações que irão sugar todos os centavos possíveis de determinada
franquia, como no caso de “Transformers”. Junte isso à falta de criatividade e
temos uma receita para o desastre na forma de uma enxurrada de “reboots” e
“remakes” que visam apenas capitalizar em algo estabelecido.
São vários os exemplos de
projetos que foram cancelados ou totalmente prejudicados pela interferência de
executivos que focam apenas no retorno financeiro. Apenas os diretores já
renomados e com bom histórico, como por exemplo Christopher Nolan, Steven
Spielberg ou James Cameron, conseguem se impor e receber “cheques em branco” para
dar vida às suas visões sem tantas interferências dos produtores e dos
estúdios. Ainda assim, a pressão sobre eles é sempre imensa e, enquanto o
retorno financeiro não se concretiza, precisam gerenciar os ânimos dos
investidores por meios de trailers ou de colaboração com produtos licenciados.
Este mercado de produtos
derivados é algo que movimenta bilhões e, para algumas franquias, gera muito
mais dinheiro do que os próprios filmes, como é o caso de Star Wars. Mas,
quando chegamos ao absurdo de vermos as prateleiras sendo recheadas com o
lançamento de brinquedos e outros derivados antes mesmo de um filme estrear,
como está sendo feito agora com o Episódio VII, é um sinal de que as coisas
estão realmente invertidas. Além de trailers e diversos outras formas de
spoilers, agora também temos de nos preocupar com brinquedos que mostram coisas
ainda nem reveladas pelo diretor.
Por outro lado, continuamos tendo
a chance de apreciar pequenas produções independentes e que estão livres dessas
amarras. Não é à toa que, em vários gêneros, aqueles filmes que mais conseguem
nos surpreender e oxigenar a criatividade da sétima arte são estes projetos
menores. Seja para revelar novos atores talentosos, diretores visionários ou
roteiristas criativos, estes filmes renovam a magia do cinema provando que não
é preciso um grande investimento para criar um bom filme capaz de entreter e
emocionar multidões por vários anos ou até mesmo décadas. Basta uma boa ideia e
pessoas dedicadas e talentosas para trazê-la à vida da maneira adequada e com a
motivação correta. Se isso for respeitado, o sucesso e, consequentemente, o
lucro, serão resultados naturais de um bom filme, independentemente do tamanho
do seu orçamento.
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