Anúncio 1

Últimos Posts

Viajando na maionese:um metrô mais humano

O metrô e uma reflexão sobre iterações humanas



É meio difícil você não saber o rumo no metrô de Brasília

Como eu moro na periferia de Brasília(sobe o background de alguma música de Rap para ficar mais clichê), ou eu passo raiva no trânsito ou tento pegar o metrô. Na primeira opção, concordando com o que um taxista falou com uma famosa escritora brasileira que me foge o nome, o pior não é tráfego(olha aê Globo... É tráfego e não tráfico, o que as vezes, dependendo da sua cidade, você pode ter as duas coisas na rodovia da sua cidade) ser lento, mas sim o pessoal espertinho que corta fila, a falta de gentileza, entre outras tristes realidades do trânsito de uma grande cidade. Há truques para passar o tempo como ouvir um bom podcast no carro, ou audiobook ou uma boa seleção musical. Mesmo assim, hoje em dia, prefiro sem dúvida o metrô.

E ser usuário do metrô(que muitas vezes realmente é uma droga, então é um termo certo mesmo) é muito complicado. Vai da segurança que nunca circula nos vagões, atrasos inexplicáveis, às já previsíveis paralisações, povo gritando nos vagões(já ouvi desde de façanhas sexuais de uma senhora a até um enorme grupo religioso que me impressionou como conseguiu entrar junto no mesmo vagão), vendedores e pedintes(aí vai uma longa polêmica), e ar condicionado que só funcionou bem na inauguração,e uma novidade no daqui de Brasília: ele tenta pegar fogo várias vezes. Eu mesmo já fui ao trabalho totalmente defumado por uma "fragrância" borracha queimada. Segue-se a foto do pós-susto.
Eu preferiria sabor bacon

E claro, o metrô é também sinônimo de cheio nas horas de rush. Sobre isso tenho algumas considerações.

Primeiro:os nossos governantes fazem uma conta macabra do número ideal de passageiros. Muitos deles consideram normal serem extremamente cheios porque querem um retorno financeiro rápido do valor investido. Assim quanto mais gente, melhor para eles. Citam metrôs famosos que são extremamente lotados, como o japonês com os famosos guardinhas que empurram o povo para dentro do vagão. Na verdade o metrô de Brasília é quase de brinquedo se comparado aos principais do mundo. Em números anuais até São Paulo é apenas a décima segunda em volume de passageiros, com 1,1 bilhão de transportados. A lista das mais movimentadas se encontra aqui. Naturalmente se deve questionar se isso é justo já que vira até uma questão de dignidade. É justo apenas aqueles que têm carro próprio terem um transporte de qualidade? E isso é viável em cidades com cada vez mais gente? Há um divertido site chamado "Cansei de ser Sardinha" onde as pessoas postam fotos de vagões lotados e cobram atitudes dos políticos. Há essa reportagem que explica mais o movimento.

Em segundo lugar: infelizmente ainda há um forte lobby automobilístico no país. Isso faz com que viadutos e avenidas sejam construídas em vez de uma solução de transporte de massa ou alternativas individuais mais escaláveis, como as bicicletas. Em Brasília é comum se ver pessoas que pedem duplicações e não pensam em ciclovias de fato adequadas e seguras(alô policiamento montado ou de bicicleta), e não ciclo faixas muito meia-bocas ao Deus dará para contagem apenas de quilometragem. Fechar parte de uma via para transito de pedestres e bicicletas só apenas nos fins de semana. Ir ao trabalho de bicicleta é uma aventura muitas vezes arriscada e fatal.

E por fim, em terceiro lugar há um fator fundamental: atitude do passageiro. Infelizmente fomos adestrados a entrar em vagões extremamente cheios, já que isso é muito normal de acontecer com os ônibus. Porém não nos ocorre muitas vezes ponderar que é preferível esperar o próximo. É verdade que tanto o ônibus ou o metrô já normalmente chegam atrasados. Também é normal apenas queremos ir para casa o mais rápido possível depois de um longo e cansativo dia de trabalho. Compromissos já marcados dependem de entrarmos o mais rápido possível. E vemos as lamentáveis cenas de estouros de boiadas na abertura das portas de metrô. Há muitas vezes um riso sádico naqueles que empurram pessoas na intenção de obter um lugar a janela. Não participo disso mesmo porque levo um livro e deixo aquele tempo reservado para leitura. E muitas vezes sinto falta desse tempo quando há uma paralisação longa como o que ocorreu recentemente.

Para exemplificar e finalizar essa viagem, relato o que me ocorreu recentemente. Estava em um vagão e ao meu lado havia uma família com uma filhinha que insistia em sentar no vagão lotado. O pai e a mãe orientavam que ela devia se levantar, mas ela argumentava que estava cansada de ficar em pé. Os acentos preferenciais estavam lotados e outras pessoas também não se sensibilizaram. Outro problema era conseguir chegar a eles em meio a um mar de gente dentro do vagão. Sendo assim todos tentavam protege-los, ainda que alguns poucos, sorrindo, entravam empurrando. Em uma das estações, dois moleques playboys saíram do vagão empurrando um senhor de tal forma que quase foi levado o relógio do mesmo. Já ia imaginar uma cena com palavrões e demonstrações de raiva. Contudo o que vi vou guardar como uma grande demonstração de presença de espírito: o mesmo apenas falou "Onde está o amor?" e todos rimos.

Nenhum comentário