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Momento nostalgia: A saga de um segamaníaco - Parte Final

O sonho acabou



Após a má recepção de seu console anterior, a Sega foi obrigada a lançar em 1999 nos states o Dreamcast, o último suspiro da gigante japonesa no mercado de hardware. Tentando aprender com seus erros anteriores, a empresa buscou criar uma plataforma mais amigável para o desenvolvimento e através de uma parceria com a Microsoft adaptou o WindowsCE como sistema operacional do console. Apesar disso e de inaugurar uma nova geração com diversas inovações que influenciaram o mercado, o Dreamcast fracassou no Japão e trouxe prejuízos imensos à Sega que, aliados a outros fatores, culminaram em sua descontinuação em 2002.

No Brasil, o Dreamcast foi lançado em outubro de 1999 pela TecToy e deixou de ser vendido em 2006. A época de seu lançamento aqui coincidiu com minha fase de vestibular e consequentemente com um período de minha vida em que estava sem muito tempo para jogar. Foi somente depois que entrei na faculdade e comecei a ganhar meu próprio dinheiro que consegui economizar para comprar um exemplar usado. Nem preciso dizer que minhas expectativas eram imensas e lembro perfeitamente como elas foram atendidas e superadas. 

O console era muito superior ao que havia no mercado e alguns jogos fantásticos em sua linha de lançamento me fizeram acreditar que ali estaria a salvação da Sega. Jogos como Sonic Adventure, Soul Calibur e o fabuloso Shenmue embalaram por muito tempo a minha jogatina e alimentaram minha esperança de um futuro brilhante para a empresa do porco-espinho azul. Eu e meus colegas de faculdade travamos batalhas épicas em jogos como Marvel vs Capcom 2 e SNK vc Capcom (tenho um amigo que até hoje  tem trauma do Haomaru). Nem mesmo o lançamento estrondoso do Playstation 2 me abalou e eu me recusei a pular do "barco Sega", resistindo até o último segundo mesmo com a água chegando já ao pescoço. Junto com o fracasso do console, afundaram-se meus sonhos de continuar a ser um segamaníaco e não demorou até que surgissem notícias preocupantes sobre um jogo do Sonic em outros plataformas.

Os motivos para o fracasso do console foram vários. Ao meu ver, a Sega já estava condenada desde a época do Saturn e a culpa não pode ser atribuída ao Dreamcast. O fato da Sony ter comprado várias exclusividades de produtoras foi um golpe fatal na Sega e impediu que novos jogos dessem o gás necessário para a empresa se reerguer. A mídia proprietária GD Rom não conseguiu impedir a pirataria (lembra dos discos de boot?) e também impediu que o console se beneficiasse da onda do DVD. No final das contas, para evitar uma derrota completa, a Sega decide descontinuar o Dreamcast e se dedicar exclusivamente ao desenvolvimento de jogos multiplataformas. Um triste e inevitável fim para a gigante japonesa.

Mesmo fracassando comercialmente, o Dreamcast foi um console inovador e até hoje é um dos mais adorados pelos saudosistas. Foi através dele que a onda de jogos online em consoles domésticos começou. Até hoje me lembro a primeira vez que joguei online em casa: eu pluguei meu Dreamcast na linha telefônica e me conectei para jogar Starlancer no modo multiplayer. Era algo totalmente novo e até desacreditado por muitos. No entanto, o sucesso posterior de jogos como Quake Arena e Phantasy Star Online provaram que  a tecnologia vinha para ficar. Outras inovações também se fizeram presentes durante a vida do console: web browser para acessar a internet (com direito a mouse e teclado), web cam, controle com sensores de movimento (lembra da vara de pescar?), etc.

Mas na minha opinião, o maior legado deste console fantástico e que lhe deu uma sobrevida inesperada foi a onda homebrew que tomou conta da internet. Vários sites e desenvolvedores independentes começaram a criar conteúdo original para o Dreamcast e montaram uma das maiores bibliotecas alternativas da história dos consoles: emuladores, jogos, media players, etc. Isso sem falar dos jogos que de vez em quando ainda são lançados para o console, como Ikaruga.

Hoje o Dremcast é uma das jóias da minha coleção e representou o fim de uma era em minha vida gamer: o fim da saga de um segamaníaco. Sempre que leio algo sobre uma possível continuação de Shenmue, meu coração bate mais forte na esperança de reviver aqueles momentos mágicos em que viajava com meu Dreamcast ao som de suas leituras barulhentas (quem lembra do barulho alto do canhão de mídia??). Se, como disse anteriormente, a Sega já estava fadada ao fracasso em uma bola de neve destrutiva que teve início com o Saturn, não vejo uma forma melhor dela ter se despedido do mercado de consoles. Com o Dreamcast, ao invés de um último suspiro a Sega deu um grito final digno de William Wallace: "FREEEEEEEEDOOOOOMMMMMMMMMMMM!!!!!!"

Vamos ao meu top five do Dreamcast:

1) Shenmue II

Este jogo é sem dúvidas um dos meus favoritos de todos os tempos, digno de receber uma atenção especial em uma edição da coluna "Jogo da vez". Apesar de ter custado uma fortuna e vendido pouco, aumentando assim os prejuizos da Sega e forçando a "aposentadoria" prematura do mago Yu Suzuki (o guru da Sega criador de jóias como OutRun, Space Harrier, Hang On, Virtua Fighter, etc), a série Shenmue criou um mundo complexo e interessante, dando início à "era moderna do sandbox" e compartilhando a busca de Ryu Hazuki para entender e vingar a morte de seu pai. A ideia principal do jogo era proporcionar total liberdade ao jogador, permitindo interação com todos os elementos do cenário, passagem dinâmica de tempo e transição instantânea entre história e combate. O primeiro jogo foi um marco, mas a segunda interação mostrou uma experiência mais polida e uma história mais balanceada, alternando bem os momentos de tensão e de calmaria. Shenmue II aperfeiçoou os QTE (quick time events) criados pelo primeiro jogo e avançou alguns capítulos na história de Ryu, mesmo que no final tenha deixado um enorme gosto de "quero mais" sem finalizar corretamente a trama. Que saudades daqueles momentos onde andava com Ryu até o arcade para jogar OutRun e gastar meu dinheiro suado!


2) Soul Calibur

Não há como falar do Dreamcast sem mencionar o primeiro jogo da série Soul Calibur. Com gráficos revolucionários para a época, uma jogabilidade perfeita e recheado de extras, não foi à toa que este jogo recebeu avaliações perfeitas de vários sites e revistas especializadas. Ao meu ver, ajudaram nesse sucesso a física revolucionária dos "bouncing boobs" e os videos de demonstração dos lutadores (que saudades de ver a Ivy com toda a sua saúde: http://www.youtube.com/watch?v=2dGdTp0muYg‎).

3) Crazy Taxi

Com seu ritmo acelerado e humor escrachado, este jogo mostrou que ainda havia espaço para a jogabilidade arcade que era a marca registrada da Sega. O objetivo é bem simples: você pega um passageiro na rua e o leva para seu destino no menor tempo possível. O que fez a diferença foi a forma criativa e divertida em que isso foi implementado. E o que acontece quando você pega um excelente jogo com uma jogabilidade frenética e usa como trilha sonora as músicas do Offspring? Uma explosão de diversão interminável!


4) Resident Evil: Code Veronica


Inicialmente pensado para ser exclusivo do Dreamcast, este spin-off da série de survival horror acabou se transformando em um dos melhores jogos da franquia e até hoje é lembrado com carinho por muitos, principalmente levando em consideração o estilo mais voltado para ação dos Resident Evil atuais. Estrelado por Claire Redfeild e seu irmão Chris, este jogo se manteve fiel à jogabilidade tradicional e aos loadings com portas se abrindo (apenas pelo suspense e não por motivos técnicos), mas inovou em alguns aspectos dando movimento limitado à câmera, permitindo duas armas e elevando o padrão das cutscenes de cgi. Uma obrigatoriedade para os fãs da série.

5) Draconus: Cult of the Wyrm


Este pode ser considerado o único "patinho feio" da minha lista, por se tratar de um jogo pouco conhecido do público em geral. O motivo dele ter sido escolhido é simples para quem já conhece meus gostos: ele tem ambientação medieval, possui um excelente combate em tempo real e tem como chefão um dos dragões mais legais que já enfrentei em minhas aventuras virtuais. Eu reconheço que a história do jogo é bem tosca e que os gráficos são dignos de uma geração anterior, mas o que me encantou foi a jogabilidade. Em uma época sem os jogos da série Souls, este jogo apresentou uma mecânica de combate que exigia estratégia e tornava qualquer luta em um evento emocionante e com elevado fator de satisfação após cada vitória. Nunca vou esquecer o dia em que matei aquele dragão vermelho usando uma das muitas encarnações do guerreiro Kalydor!

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