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Filme da vez: Indie Game - The Movie


Título original: Indie Game - The Movie
Ano de Lançamento: 2012
Diretor: Lisanne Pajot, James Swirsky
Estrelas: Jonathan Blow, Phil Fish, Edmund McMillen
Sinopse: Um documentário que segue a jornada de desenvolvedores de jogos indie enquanto eles criam seus jogos e os lançam, assim como a si mesmos, ao mundo.


Talvez uma coluna "Documentário da vez" fosse tecnicamente mais correta, mas vamos deixar as tecnicalidades para os desenvolvedores independentes que fazem parte dessa história que me cativou. O motivo de ter gostado tanto talvez seja porque eu de certa forma consegui me identificar com a temática e me importar com o drama da vida real de um programador indie. Por isso, antes de falar do filme em si, acho relevante contar minha história como programador independente "fracassado".

Todo nerd que se preze, logo que aprende a programar (e a fazer um algoritmo para a sequência de Fibonacci, no meu caso), fica com vontade de desenvolver um jogo. Comigo e dois amigos de faculdade,  Law e Tetsu, não foi diferente. Nós começamos a criar um jogo em pascal chamado "Gladiador", que seria uma versão melhorada de um daqueles livros de aventuras onde você pode ir escolhendo o caminho, mas com combate mais elaborado, loja de itens, etc. "Fundamos" a LawTetsuMaik e dividimos o desenvolvimento: eu faria o esqueleto do jogo, com a lógica do combate, a loja de itens, etc. Tetsu ficou responsável por criar duas ferramentas que usaríamos durante o jogo: uma para digitar os textos e outra para fazer desenhos. Já o Law ficou com a parte gráfica, inclusive com direito a cena de abertura e tudo mais. Nós conseguimos até fazer uma versão jogável e estável, mas por diversos motivos acabamos abandonando o projeto. No nosso caso, isso não gerou nenhum problema, pois era apenas um hobby. Com certeza o trabalho que tivemos foi imenso, mas antes de ver este filme eu nem imaginava como é difícil fazer um jogo independente com qualidade suficiente para pelo menos pagar o trabalho que demanda. Há pouco tempo, surgiu uma oportunidade de "passarmos a tocha" para outros estudantes tentarem terminar nosso jogo, mas achamos melhor não seguir em frente com isso. Depois, em alguns momentos cheguei a pensar que foi um pouco de egoísmo, mas como irei explicar antes do fim desse texto, hoje fico feliz por ter tomado essa decisão!

O documentário intercala três histórias principais de desenvolvimento de jogos indie, cada uma em um estágio diferente. Uma fala sobre o desenvolvedor do jogo Braid, um dos primeiros jogos independentes a fazer sucesso mundial em várias plataformas e que, com isso, acabou abrindo caminho para outros e solidificando o mercado de jogos indie. O foco nesse caso é na experiência do desenvolvedor que já alcançou sucesso e agora trabalha para superar as expectativas em seu próximo projeto. Apesar de alguns momentos de contestação e desabafo, essa história traz o alívio do drama inicial das outras duas e uma variação de ritmo importante para a construção do documentário.

Outra história, bem mais dramática, conta as desventuras do desenvolvedor de Fez, tentando terminar o jogo que já estava na época há quatro anos sendo feito. O fim litigioso da sociedade com o co-criador, juntamente com problemas de redesign e de falta de recursos são apenas alguns dos dramas vividos pelo desenvolvedor, que ainda precisava lidar com a desconfiança das pessoas que aguardavam o lançamento. Em um momento marcante que registra o desespero dele, ao ser perguntado sobre o que faria se seu jogo nunca fosse lançado, ele disse: "Eu me mataria". Toda a sua vida naquele momento se resumia a terminar esse jogo.

A última narrativa acompanha os momentos finais do desenvolvimento do jogo "Super Meat Boy" e como isso afeta a vida de seus dois programadores. Apesar de ter também momentos apreensivos e expor as dificuldades que a carreira de programador independente apresenta, esta história tem momentos alegres e traz a mensagem de que pode haver um pote de ouro no fim do arco-íris para os mais dedicados e talentosos. O que mais me marcou foi a paixão demonstrada pelos criadores desse jogo que hoje é um sucesso e mudou completamente suas vidas. Eles deram seu sangue e derramaram sua alma para criar algo que refletisse tudo que acreditam ser necessário para criar um jogo bom. O processo pode ser comparado à criação de um filho: você se empenha e dá seu melhor para que ele cresça bem e, quando a hora chegar, possa sair de casa e ser bem sucedido no mundo lá fora.

E é por isso que hoje estou feliz por não ter deixado outra pessoa terminar o meu jogo independente. Muito provavelmente, eu e meus amigos nunca teremos oportunidade de finalizar nosso projeto, mas estou em paz com essa possibilidade. Ter aberto mão da autoria teria sido como mandar meu filho para terminar de ser criado por outra pessoa. Eu coloquei tanto de mim dentro daquele jogo que ele virou parte integrante da minha história. No fim, eu não terminei o jogo nem me transformei num criador de jogos. E talvez tenha sido melhor assim, pois hoje tenho noção do sacrifício, talento e dedicação necessários para chegar ao sucesso. Eu devo essa conclusão a esse documentário. Como diria minha esposa psicóloga, ele me ajudou a "fechar a gestalt" (significa, bem resumidamente, trazer harmonia) do meu ser que alimentou sonhos de virar programador de jogos. Se isso não for incentivo suficiente para assistir ao filme, então é "Game Over" para mim.

4 comentários:

  1. Adorei o texto, parabéns!

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    1. Você é suspeita pra falar, mas muito obrigado mesmo assim!

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  2. Snif snif snif... A abertura em Pascal é capaz de ser a maior sequência gráfica ja desenvolvida nessa linguagem,... Kkkkkkk... mas foi bom ter participado. Valeu tio Maik! Mas não acredito no Game Over, hehehe...

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    1. Realmente aquela abertura ficou muito bacana. Comédia era estar no modo de arena e encontrar o "LawTetsuMaik", monstro mais apelativo...hahahaha. Lembra disso?

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