Filme da vez: Não! Não Olhe! (2022)

    

Mais um ótimo filme de Jordan Peele que brinca com gêneros e é carregado de simbolismos e metáforas

                                                                                                                 

Nota IMDb: 7,2 (até o dia da postagem) (IMDb)

Título original: Prey

Ano de Lançamento: 2022

Diretor: Jordan Peele

Estrelas: Daniel Kaluuya, Keke Palmer, Brandon Perea, Steven Yeun

Sinopse: Os moradores de uma solitária ravina no interior da Califórnia testemunham uma descoberta misteriosa e assustadora.

Crítica: Michael

A carreira de diretor e roteirista de Jordan Peele explodiu em 2017 com o excelente 'Corra!' e desde o começo ficou evidente sua capacidade de gerar suspense e inserir metáforas sociais em suas histórias. E mesmo que seu segundo filme, 'Nós', não tenha recebido a mesma atenção da crítica e público, é inegável se tratar de uma obra carrega de simbolismo. O mais novo filme de Peele, 'Não! Não Olhe', é mais um exercício interessante do cineasta recheado de referências pop, metáforas e metalinguística cinematográfica.

A história mostra um rancho de uma família de adestradores de cavalos que são usados em filmes ou comerciais. Apesar de terem uma tradição desde o início da indústria cinematográfica, a mais nova geração família não parece mais tão interessada em tocar o negócio. Neste cenário, um evento estranho gera a morte do patriarca e cabe ao casal de filhos tentar descobrir o que está por traz disso. A partir daí, o filme navega em diferentes gêneros e ameaça ser um filme sobre invasão alienígena com pitadas de suspense, terror e até comédia, mas na verdade é mais uma das construções multifacetadas de Peele que usam de metáforas para tratar de outros temas. Neste caso específico, trata-se do poder que a exposição à mídia e ao público têm sobre a vida daqueles que se tornam figuras conhecidas. A metalinguística sobre o cinema mostra o poder que o público e a indústria como um todo têm de afetar os envolvidos na criação de filmes uma vez que eles olham para a lente de uma câmera e se tornam um produto a ser consumido. É como se Hollywood ou a mídia em geral fosse um monstro com um olho de lente pronto a devorar aqueles que não conseguirem domá-lo.

Além destas interessantes metáforas sobre o próprio cinema e a necessidade em expor tudo na internet, o filme também apresente várias referências pop de outras obras conhecidas e isso irá exigir dos fãs assistir mais de uma vez para registrar tudo. Isso ajuda a montar o pacote de uma obra que vai muito além da sua excelente cinematografia e efeitos visuais, carregando-a de um significado extra que eleva o seu impacto. Ainda que os fãs de Peele mais interessados pelo suspense e terror talvez saiam decepcionados, é preciso reconhecer o comprometimento do diretor em fugir de fórmulas e de tentar trazer algo original e provocativo para a telona.

E o elenco tem grande parcela na qualidade do filme, com destaque para a nova colaboração entre Peele e o ator Daniel Kaluuya, que interpreta o filho do dono do rancho e responsável por tocar os negócios da família após a morte misteriosa do seu pai. Ele mostra seu talento dramático em uma performance que usa mais expressões faciais, corporais e olhares do que falas. No papel de sua irmã, Keke Palmer traz uma interpretação carregada de energia e carisma. Destaque também para a participação mais introspectiva de Steven Yeun e a engraçada interpretação de Brandon Perea como o "cara de TI" do elenco.

Temos então a consolidação do nome de Jordan Peele como um dos diretores mais inovadores e talentosos da geração atual, derramando em suas obras o amor que ele mostra sentir pela sétima arte e pelas emoções que ela pode levantar ao criar obras carregadas de significado e que fogem da fórmula manjada de Hollywood que visa apenas gerar bilheteria. Aqueles que esperam um filme tradicional de suspense, terror ou ficção talvez saiam decepcionados, mas a verdade é que a película consegue brincar com estes gêneros e ser algo inovador e interessante com excelente qualidade de produção. 

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