No NetFlix:O Espião(2019)
Como um ator famoso por vários papéis cômicos consegue sair do esteriótipo de bobo para fazer um personagem tão importante da sua adolescência? E ele consegue realmente entregar algo bom? Confira essas e outras perguntas na crítica abaixo
Um ator e personagem bipartido |
Nota IMDb: 7,6 (até o dia da postagem) (IMDb)
Título original: The Spy
Criadores: Gideon Raff
Estrelas: Sacha Baron Cohen(como o bipartido Eli), Hadar Ratzon Rotem(como a esposa Nadia Cohen), Yael Eitan(Maya), Noah Emmerich(como o treinador Dan Peleg), Hassam Ghancy(como o coronel Salim Hatoum), Nassim Si Ahmed(como Ma'azi), Uri Gavriel(como o Sheik Majid Al Ard), entre outras estrelas
Crítica: Dissonantbr
A primeira pergunta que me veio a mente foi: por que justamente ele? Eli Cohen ficou famoso no Oriente Médio pela história que em si é de filme: conseguir se infiltrar na Síria, definitivamente o país mais fechado da região, e extrair informações importantíssimas que foram fundamentais para o sucesso da defesa de Israel e também conquista da região de Golã.
Antes de entrar em mais detalhes, vale a pena lembrar um pouco do contexto que não está presente na série. A Síria, como explicado na obra, passou por vários golpes, porém manteve sempre uma relação de guerra com Israel, participando de uma aliança com outros países da região, e alternou momentos de influência bidirecional do Iraque, Líbano e Egito. Com a morte de Sadat, muita coisa mudou, radicalizando em muitos momentos com ações armadas. Só que o que muitos aqui no Brasil não sabem, é que havia todo um cenário de espionagem no Oriente Médio onde um grande jogador era justamente o governo sírio.E grandes somas eram mobilizadas em ações nas nações ao lado, assim como ao redor do mundo.
Voltando ao filme, Eli Cohen era um empolgado cidadão que queria servir e melhorar de vida, porém a realidade dada a sua origem o jogava a uma condição de cidadão de segunda classe. Porém, tudo muda quando, depois de tentativas frustadas de se voluntariar, ele por fim é chamado para uma missão praticamente suicida. Depois de vários misteriosos ataques na fronteira, ninguém em Israel sabe o que diabos está acontecendo no vizinho, e o Mossad precisa de alguém que informe o sentimento e intenções para evitar até uma guerra ruim para ambos lados.
Aí voltamos ao Sacha Baron Cohen. Segundo ele, a grande motivação de correr atrás desse papel foi justamente o fato de que em sua casa em Londres, na sua infância e adolescência, havia na sala de estar, em destaque, o livro "Our Man in Damacus" que contava justamente a história desse curioso personagem. E também ironicamente pesa o fato de recentemente o mesmo ator ter provocado muitas reações na chamada série Who Is America? onde interpretava um soldado bem maluco que constrangia até o mais fanático defensor militarista. Mas faltava algo mais sério, e talvez isso o forçou a algo como essa história.
E o desempenho na série dele é bom. Inconsistente já que, talvez por erros de direção, ou limitações mesmo dele, a série luta com um ritmo arrastado, até confuso. Isso não significa que não tenha ocorrido um esforço e cuidado para contar uma boa história. Só que os requisitos de hoje em dia para algo interessante são mais complexos, tal qual Os Americanos, por exemplo. E falando nessa série, Noah Emmerich, aqui como o treinador Dan Peleg, além de sotaque elogiado por muitos, consegue uma ótima performance naquele dilema de mandar pessoas para um ambiente tão perigoso e que testa tanto o seu trabalho.
Voltando à Sacha, uma coisa curiosa foi justamente quando ele aparece com o bigode, que nos leva à pergunta de como série ele como Freddie Mercury, o que quase ocorreu. Curiosamente dá impressão que não só o espectador tem dificuldade de separa-lo do comediante, assim como dá sensação também de uma aparente dificuldade do ator em vários momentos de engatar com o personagem.
Uma coisa que poderia ter sido melhor aproveitada é justamente mais informações sobre o que vinha acontecendo nos outros países vizinhos, ou mesmo em Israel, URSS e EUA. A série quase abusa de efeitos visuais para adicionar informações em tela, entretanto não para formar um contexto. O foco exagerado em Eli acaba jogando um peso que Sacha pode não ter suportado bem como ator. Uma outra coisa são alguns fatos, claro, tudo dentro do elástico "Inspirado em Fatos Reais", que são muito monocromáticos(ah, falando nisso curiosamente há uma distinção de cores quando se está na Síria e fora dela... Acho que como uma metáfora de quão vivo ele se sentia em ser alguém diferente do que ele realmente era) como a suposta fronteira totalmente desprotegida mesmo depois de meses de ataque. Não faz sentido.
Resumindo, é uma boa mini série de 6 capítulos de alguém que se arriscou tanto e de fato deu vantagem estratégica frente à um adversário vizinho. Também acabou gerando, como mostra no final do sexto episódio, um dano muito maior do que ações militares. Pena que poderia ter sido mais rica em detalhes e menos parcial. Disponível no NetFlix.
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