Eu faria assim: Filme de ficção científica - O Devorador de Ossos - Capítulo 6 - Parte 9
Hasta la vista, baby |
O rosto de Mark mostra extrema
concentração e as rugas em sua testa denunciam que ele está refletindo bastante
antes de decidir seu próximo passo. Ele está sentado e imóvel na cadeira de
comando da Pioneer, olhando fixamente para a tela de comando central que está à
sua frente. De repente, ele aproxima seu rosto da tela, coloca a mão direita no
queixo e diz:
- Ok, cavalo de D4 para E6.
Na tela de comando, a imagem de um
tabuleiro de xadrez mostra a movimentação da peça solicitada por Mark. Dois
segundos depois, a tela já mostra uma outra jogada, desta vez das peças
brancas, com a rainha avançando, tomando um bispo e encurralando o rei de Mark.
Logo em seguida, a voz de M.A.I.C. é ouvida:
- Xeque mate.
Mark se curva para trás rapidamente e
dá uma resmungada antes de retrucar:
- Não acredito que perdi outra vez!
Assim não dá! Você por acaso herdou os chips do “Deep Blue”?
A resposta de M.A.I.C. vem logo em
seguida:
- Lamento Mark, mas não tenho nenhum
registro sobre isso no meu banco de dados.
Mark balança a cabeça negativamente e
diz:
- Deixa para lá, seu espertalhão. Vamos
trabalhar que é melhor. Por favor me dê um diagnóstico completo.
A imagem do tabuleiro de xadrez então
some da tela de comando central e é substituída por um resumo de todos os
sistemas da nave. A voz de M.A.I.C. complementa as informações:
- Todos os sistemas nominais.
Trajetória e velocidade esperadas com previsão de chegada em Júpiter em cerca
de vinte e quatro horas.
A expressão de Mark se abre e ele dá um
leve sorriso, mostrando que já superou o episódio anterior. Ele se prepara
então para levantar, mas assim que coloca as mãos para se apoiar no painel um
barulho alto e seco de algo batendo da espaçonave o assusta. Ele volta a se
sentar e olha em todas as direções antes de gritar:
- O que foi isso, “M”?
A tela de comando mostra M.A.I.C.
escaneando os sistemas e sensores antes de responder:
- Os sensores da Pioneer indicam
colisão com objeto não identificado na lateral traseira próximo ao propulsor
iônico principal. Não parece ter havido dano severo e o propulsor está
completamente funcional.
Mark se recosta e respira fundo com
alívio. Alguns segundos depois, ele fala com a voz mais tranquila:
- E de onde veio esse objeto? Temos que
tomar cuidado para desviar de detritos.
A resposta de M.A.I.C. vem logo em
seguida:
- Pela força do impacto o objeto parece
ter o tamanho aproximado de uma bola de gude. Na nossa velocidade atual, seria
impossível detectar ou desviar de um objeto tão pequeno. Estamos atravessando o
Cinturão de Asteroides e esse tipo de colisão é um evento possível, ainda que
pouco provável.
As sobrancelhas de Mark mostram sua
surpresa e ele se levanta assim como elas e se dirige para uma janela lateral
para tentar ver alguma coisa. No entanto, apenas a escuridão do espaço é
mostrada pela janela, enquanto na frente a imagem de Júpiter começa a ficar
mais próxima. Ele então reclama:
- Puxa, realmente os asteroides estão
muito afastados e não dá para ver nada. Sempre achei que seria como aqueles
campos de asteroides dos filmes.
Mark dá uma risada que soa pela nave
sem resposta e ele se lembra que está sozinho. M.A.I.C. então responde com sua
voz normal:
- Nossa trajetória foi calculada para
evitar os maiores asteroides e por isso você não irá ver nada além de algum eventual
asteroide ou nuvem de poeira refletindo a luz solar.
Mark gasta mais algum tempo procurando
algo. Após alguns instantes, ele diz:
- Ok, “M”, por favor reporte para a
Nasa sobre a colisão e peça para eles rechecarem os dados para garantir que não
sofremos nenhum dano. Não receba isso como desconfiança, é apenas precaução.
M.A.I.C. responde em seguida:
- Afirmativo, Mark.
Depois disso, Mark volta sua atenção
para a imagem de Júpiter que se aproxima e seu coração bate mais forte com a
antecipação da chegada. Ele se senta novamente na cadeira de comando e deixa
seus pensamentos voarem soltos na imensidão do que está vendo. A aproximação
também significa a culminação de todos os anos de trabalho e dedicação, não só
dele, mas de toda a equipe do Projeto Explorer. Sendo assim, Mark tem
consciência de que precisa se manter focado e tranquilo para desempenhar seu
papel de maneira adequada, principalmente porque uma possível cura para o
terrível devorador de ossos depende do sucesso desta missão. De repente, como
que acordando de um transe, ele respira fundo e diz:
- Certo, vamos tentar o xadrez de novo,
mas desta vez não vou facilitar para você, “M”. Se perder de novo a gente vai
ter que mudar para algo mais eclético. Você teria um “Fifa Soccer” instalado
aí?
M.A.I.C. gasta um tempo maior do que o
normal para responder:
- Lamento Mark, mas não tenho nenhum
registro sobre isso no meu banco de dados.
Mark dá uma risada alta e fala:
- Tenho que te ensinar muita coisa,
“M”. A começar por essa resposta pré-programada. Desse jeito você soa muito
como uma máquina. Você deveria dizer algo como “Foi mal, eu tô por fora desse
assunto” ou “Qual é, meu irmão, tá me tirando?”. E quando for responder
afirmativamente, diga “Okey dokey” ou “Falou e disse, cara”.
Após mais alguns segundos de silêncio,
M.A.I.C. responde:
- Okey dokey, Mark.
Mark dá uma gargalhada bem forte e por
alguns instantes sente como se estivesse acompanhado por outro astronauta em
sua missão solitária. A tela de comando volta a mostrar o tabuleiro de xadrez e
os dois começam a jogar novamente enquanto a Pioneer segue firme e veloz em
direção ao rei dos planetas, Júpiter.
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