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Viajando na maionese:as consequências de uma Internet Limitada

Algumas reflexões sobre a Internet Limitada e uma solução tão simples, mas não dita



Há alguns meses atrás, recebi uma ligação da minha provedora de Internet que queria que eu lembrasse que ela também tinha TV a cabo. Aliás a ligação foi justamente para perguntar se eu não queria aumentar o número de canais. Expliquei que não tinha interesse porque não assistia TV. Parecia que tinha dito a coisa mais absurda do mundo.

A moça insistiu e reafirmei que não assistia TV e fazia mais de uns 4 meses que eu não ligava o receptor. Ela então perguntou o que eu fazia se não gastava as minhas horas de lazer na TV... Depois de pensar em algo bem mal-criado, resolvi dizer que lia, jogava videogame, ligava para amigos, enfim, qualquer coisa menos isso. Só que eu não estava sendo totalmente sincero. Eu gastava um bom tempo na Internet. Por mim a TV a cabo só vinha porque há uma venda casada velada como prática hoje em dia. E pelo visto, longe de acabar.

Só que as companhias de TV a cabo não iam ficar olhando o negócio delas irem para o saco. Elas tinham que reagir. Claro que elas poderiam oferecer uma programação melhor, migrar para a Internet ou... limitar o acesso a maior das concorrentes delas.

Porém a coisa não aconteceu bem assim. Primeiro elas tentaram aumentar os impostos de serviços parecidos com o NetFlix via CADE. De lambuja WhatsApp e serviços como Spotify já teriam um aumento desde de setembro do ano passado("Câmara dos Deputados aprova imposto que tributa Netflix").

E mesmo assim ainda não resolveu o problema. Até o Silvio Santos gostava de assistir de vez em quando(e até fez propaganda de graça)... E as mesmas companhias que lhe dão um "excepcional" serviço de telefonia, não estavam nada felizes com isso. Imagina só: de repente elas iriam ver uma situação parecida como o que ocorreu com SMS, aquele dinheiro fácil de um serviço tosco e totalmente ultrapassado.


O que muita gente ainda não sabe é que quando eles falam em reduzir, é quase zerar, já que 10 gigas é coisa de fato de uma franquia de celular chinfrim... Essa era a proposta da Vivo que nesse episódio só se esforçou e muito para queimar seu próprio filme. Só que o mais absurdo foi o presidente da Anatel falar que a culpa era das operadoras que mimaram seus usuários demais. É como acusar as pessoas de estudarem e questionarem quando falarem que a Terra é plana. E para os que acham até que é bom porque vão gastar mais para terem uma internet diferenciada, surpresa: os pacotes mais premium não passam muito dos 160 gigas. Um pouco mais do que um pendrive bacana. E muito menos do que um hd externo bem modesto.

O consumo de informação é uma das grandes características da nova fase econômica mundial. E isso é muito, mas muito velho mesmo. Bill Clinton, quando iniciou a fase comercial do que viria a se tornar a Internet que conhecemos já pensava nisso. É só procurar o que Bill Gates, arrependido por não acreditar na até então jovem Internet, via como uma nova organização social baseada na informação no jurássico "Estrada do Futuro". E isso que era o Bill Gates!!! E na década de 90!!!! De tão trivial até a ONU reconhece o direito ao acesso a Internet como um direito básico como acesso a energia elétrica. E vamos combinar, é natural que as pessoas evoluam. O ministro não espera que as pessoas vejam filmes em VGA ou tenham um 486. Porque isso é o raciocínio de reserva de mercado. Mas calma, eu vou chegar lá.

E é engraçado reclamar do sucesso do consumo de grandes volumes de informação. Ora, mas isso não é uma coisa boa? Para poucas pessoas, aparentemente não. Todo o santo ano há conferências como a de Barcelona onde são apresentadas novas tecnologias de transmissão e tratamento de imagens e dados. Funciona assim: evolui a geração de conteúdo, evolui os meio de transmissão. E sim, isso demanda dinheiro. E isso o consumidor está acostumado. Só que algumas empresas não. Querem o mesmo ou mais dinheiro sem investir de preferencia nada. E quanto mais usuários, melhor.

"Porém, o que isso muda para minha vida?", o leitor deve estar se perguntando? Pois provavelmente muita coisa.

1)Quer uma internet ilimitada? Deixe o seu rim
A primeira consequência obvia dessa discussão é um aumento absurdo no diferencial que era regra. Quem tem Internet ilimitada hoje vai ter que pagar muito mais muito em breve. Isso já foi avisado e era um plano antigo de muitas operadoras. Elas não executavam porque estavam em uma competição media entre elas.
2)Prepare para as brigas familiares por causa das sobretaxas
Quem viveu o tempo do apagão sabe o que é regular e muito o consumo. O que não dá para entender é ver o motivo além da ganancia de algumas empresas em lucrar mais, já que a infeliz comparação com a energia não procede, já que água depende de fatores não controláveis. É fácil ver tendencias de consumo e planejar a expansão da capacidade. Não é como prever se vai chover bem nesse mês ou o outro. Não existe La Niña ou El Niño no consumo da Rede.
3)Proteja sua rede:a volta do sequestro de conexão com força total
Lei básica da economia: se algo vale mais, será mais cobiçado. E isso vai valer para sua conexão WiFi em tempos de Internet de Cuba. Os ataques serão mais frequentes daqueles que não se conformam com seus modestos(mais absurdamente caros) planos futuros.
4)Fim da Internet cortesia
Sabe aquele café que você às vezes ganha no restaurante? Muitas vezes é pago, mas ele aparece na garrafa térmica na saída. E claro, o WiFi que você conecta também. Só que tal como o café, vai ser cada vez mais comum ser discriminado na conta. 
5)Tchau jogos digitais
Steam, EA Acess, Xbox Live e PSN no Brasil estarão em uma situação bem complicada. Como baixar um jogo que não atende os critérios do senhor ministro(que duvido que tenha alguma atividade relevante na Rede) já que ele pode ter 80 Gigas??? Você precisaria de 8 meses no plano mais básico da Vivo. Ou na Net de quase 3 meses no plano de 2 Mega(que foi o minimo definido pela ONU. Mas claro que o Brasil é onde mais é menos e o mínimo oficial é 1 Mega).  Ainda na Net você gastaria toda a sua franquia de um mês no plano de 15 Mega co esse mesmo joguinho... Impressionante!
A saída para muitas empresas é deixar um quiosque eletrônico onde você baixa o jogo que você comprou online. Seria como um serviço de revelação de fotos, só que ao contrário(em vez de despejar as fotos, você baixaria o conteúdo para o seu pendrive-hd externo). E prevejo que a mídia física vai imperar nessa favela digital chamada Brasil.
6)Nuvem? Que nuvem?
Sabe aquele papo de evolução, acompanhar o desenvolvimento do mundo e tal? Claro que isso não é legal pro Brasil. Só deve ser essa conclusão.
Hoje em dia muita gente está apostando pesado na nuvem. Serviços localizados, e alguns muito pesados como processamento remoto de imagens, aplicações , enfim, conteúdo, tudo isso dá tchau também em uma Internet de acampamento de refugiados da ONU.
7)Custo Brasil maior
Deveria ser de conhecimento público que a Internet muda e melhora a qualidade de vida das pessoas ao redor do mundo. Vida de empresário no Brasil é nível mega Hard. Então vem aquela forcinha do amigo da onça em tornar a conta de acesso a Internet mais salgada e sem evolução. Porque agora ela vai ter que ser diferente do cidadão-otário(:() Aí vem os novos planos de empresários-otários (:((). E claro, isso vai parar no preço do consumidor-otário (:(((((((()
8)Exclusão social,  enhance!!!!!!
Ok, se você for a uma Lan House(olha elas voltando aí gente!!!), você vai ver que de cada 10 usuários, 9 estão em redes sociais e 1 estudando. Posso estar sendo otimista até. Porém, não há como negar que a popularização da Internet dá acesso a um mundo de aprendizado. É só querer(e provavelmente falar e ler inglês, coisa que ela ensina. É só procurar). E a Educação a Distancia(EaD) permitiu uma série de melhorias profissionais. Tudo isso vai dar tchau com uma Internet de cabo telegráfico. Só às grandes deficiências sociais já seriam motivo para uma atitude diferente...porém....
9)Descrença no modelo de agências
Não só a Anatel, mas a Anac andam meio contra o consumidor. Emplacaram praticamente na mesma época franquias que fazem o usuário que paga caro, passa raiva, não tem onde resolver seus problemas, tem aumentos surpresa e pouquíssimas opções de serviço, enfim, esse folgado, enfim ficar no lugar que ele merece: de vitima mesmo.
11)A volta para as pequenas provedoras
Lembra daquela época onde as pequenas provedoras te tratavam de uma forma diferenciada. Quem sabe isso volte acontecer. Tal como algumas que não aceitavam traffic-shapping(olá Net! Lembra?), algumas provedoras ofereciam preços mais baixos e velocidades maiores. O problema é que as grandes devem ver isso vindo e vão cobrar muito, mas muito caro das nanicas.
12)Conteúdo pessoal no trabalho
O link da empresa tá lá, gordinho, a franquia de casa acabada. Tem gente que nem vai pensar duas vezes. Claro que há mais um custo embutido no desempenho de alguns empregados.
13)Franquias existem em vários países do mundo. Só que com algumas diferenças...
Em teoria 68% dos países do mundo tem banda larga fixa ilimitada. Porém, elas são suficientes para pessoas que tem um consumo baixo de multimídia e....Wait for it... elas podem escolher entre várias e vários planos de operadoras. Lá nos EUA a AT&T está oferecendo planos de 80 dólares com DIRECTV + Internet com franquia de 250 Gigas por 80 dólares. Quer mais 50 Gigas? Pague mais 10 dólares. (Nem tente fazer a conversão para patacas... Pegue por referencia quanto custa uma coca ou um mac... Aí vai ser bem mais justa a comparação). Mas ela continua oferecendo planos ilimitados. E ela tem competição de outras companhias. Isso faz toda a diferença do mundo.
14)A volta pesada da pirataria
A ironia maior, como muita coisa que a MPAA faz, é que geralmente ela gera mais pirataria. Pessoas se acostumaram a acompanhar séries. E elas não estão dispostas a pagar um figado para assinar um plano de centenas de canais iguais e em uma grade fixa. Elas vão atrás da banquinha do tio zé. Ou iremos para um modelo cubano de troca de hds cheios de conteúdo piratas. Ou vamos, como país, ler mais livros... Hummmm... Ou quem sabe vai imperar redes locais de compartilhamento de conteúdo. Sabe aquele esforço de ver o conteúdo legalmente: ficará economicamente cada vez mais difícil.

Disgnóstico: quando o ministro fala, e as empresas em um muito estranho mesmo tom concordam, elas não tem condições de continuar oferecendo o serviço para o conjunto de usuários com as condições atuais. Se isso é verdade, qualquer capitalista sabe a solução. Encontre outra empresa. Ou você fala simplesmente ao seu chefe que está difícil o dia a dia e ele tem que reduzir a demanda de tarefas? O que você acha que vai acontecer?
Já que as empresas que aqui estão não tem condições, que se abra o mercado para outras novas empresas que estejam interessadas em topar esse desafio. Não faz sentido e chega ser criminosa a atitude de sequestrar parte da experiencia como cidadãos do novo século por lucro. E a competição entre mais empresas vai gerar a unica suposta motivação da mudança:menores preços para o usuário mediano. #InternetJusta

Sexta falaremos de um assunto bem mais leve! Prepare-se deixar esse mundo!



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