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Jogo da vez: Shadow of the Colossus


Eu já havia mencionado antes na minha análise do The Last of Us que este seria o meu primeiro jogo a ser avaliado. Apesar de não ter seguido esse desejo, resolvi corrigir o erro e finalmente falar desta obra prima digital chamada Shadow of the Colossus, lançada em 2005 para o Playstation 2. Com sua jogabilidade única, direção de arte impecável e trilha sonora magistral, este jogo está no topo da minha lista como um dos melhores de todos os tempos e serviu para coroar com glória o fim da "era PS2".

O artista responsável pelo jogo (tomo a liberdade de chamá-lo de artista e não apenas de game designer) se chama Fumito Ueda. Na época, ele liderava uma equipe na Sony conhecida como "Equipe Olímpica", por lançar um jogo novo apenas em intervalos de quatro anos. Ele havia estreado em um jogo chamado Ico, que foi lançado em 2001 para PS2 e conseguiu sucesso de crítica e público. Neste seu primeiro trabalho, Fumito Ueda já mostrou sua direção de arte única e seu espírito inovador ao lançar um jogo bem diferente dos padrões de mercado. Quatro anos mais tarde, em um projeto coberto de grande expectativa, ele lançou Shadow of the Colossus e conseguiu firmar seu nome como um dos grandes game designers da atualidade.

Confesso que só fui jogar Ico depois de ter jogado Shadow of the Colossus, mas vivenciei toda a expectativa que cercava o lançamento do segundo. Me lembro que um colega me mostrou um vídeo do jogo e disse: "Olha só esse jogo que vão lançar para PS2". Eu assisti a cena de um homem sobre um cavalo andando na encosta de um monte, observado por uma águia que sobrevoava os arredores, tudo em uma atmosfera realista e com trilha sonora melódica. Depois disso fiquei vidrado no jogo, acompanhando notícias e aguardando sua chegada. Quando finalmente coloquei minhas mãos nele, não consegui parar de jogar e posso dizer que foi uma das experiências mais marcantes da minha vida gamer.

A história do jogo é bem simples e não existem muitos diálogos ou "cut-scenes" que poderiam desviar a atenção das verdadeiras estrelas do jogo: os 16 colossos. O protagonista chamado Wander deseja ressuscitar sua amada Mono e decide roubar uma espada sagrada e partir em seu cavalo Agro para uma terra remota. Lá, uma entidade espiritual promete reviver Mono se nosso herói cumprir a tarefa simples (peace of cake!) de usar a espada sagrada para derrotar 16 colossos de pedra que habitam a região. É isso mesmo, não existem missões paralelas e nem inimigos intermediários, "apenas" os 16 chefões e suas batalhas épicas.

A direção de arte do jogo seguiu o estilo visual já estabelecido por Fumito Ueda em seu jogo anterior, mas com a diferença de que agora existe um mundo exterior imenso com variações radicais de paisagens alternando lagos e cachoeiras com cavernas e ruínas abandonadas. Apesar da imensidão do ambiente e da flora, a fauna é bem escassa e se resume a alguns lagartos e pássaros, provavelmente devido a limitações de hardware. E por falar nisso, até hoje me impressiono com a ausência de "loading" ao explorar esse rico ambiente aos galopes de Agro. Tudo está conectado e a liberdade de exploração é ampla, sendo que a transição é transparente.

A jogabilidade é o ponto forte de Shadow of  the Colossus e cada batalha contra um colosso é um confronto memorável. Em alguns casos, a batalha pode ser bem demorada e irritar bastante (como a maldita tartaruga que me fez gastar 3 horas de jogo!!!), mas acho que estes casos são raros e não comprometem o resultado final de diversão . Como já disse, o objetivo é encontrar os 16 colossos e matá-los, um de cada vez e em uma sequência fixa. A fórmula é bem simples: você monta em seu cavalo, vai até uma região com luz solar e levanta sua espada. Ao girar a espada, os raios de luz vão convergindo até se fixagem num ponto que informa o sentido a se seguir. Basta então cavalgar até o local, ocasionalmente tendo que nadar ou pular algumas vezes, para encontrar o colosso e enfrentá-lo. O jogador enfrenta criaturas de formas e tamanhos variados (mas todos bem maiores que o protagonista, caso contrário não seriam colossos!) : minotauro, pássaro, serpente marinha, verme, tartaruga, etc. A espada também serve para revelar seus pontos fracos (assim como uma voz que ajuda caso você demore) e todos eles possuem um comportamento próprio que precisa ser decifrado para revelar a tática correta. Algumas vezes será preciso usar o ambiente para derrotar os monstros, mas em todos os casos é necessário chegar até seu ponto fraco e depois cravar a espada algumas vezes para finalizar o colosso. A mecânica de escalar as criaturas é muito bem bolada e existe um "medidor de aderência" que vai diminuindo com o tempo e com os movimentos do monstro que tenta derrubar o protagonista, até que ele zera e o personagem cai e precisa começar tudo novamente. Existe sim um medidor de vida (apesar de Fumito Ueda não gostar disso), mas a interface é resumida e não há pontos ou recompensas. Wander ainda tem um arco que ajuda nas batalhas que exigem a participação de Agro.

A trilha sonora orquestrada alterna momentos suaves e tranquilos com arranjos mais pesados e épicos para as batalhas. A qualidade das peças é excepcional e a música se encaixa perfeitamente como a última peça no quebra-cabeça da saga do herói que mata colossos para reviver sua amada.

Todos que já experimentaram o jogo devem ter sua lista de colossos preferidos e comigo não seria diferente. Encontrei um site que tem a descrição detalhada (inclusive com peso e altura), fotos e videos de todos os colossos. Recomendo para os interessados: http://teamico.wikia.com/wiki/The_Colossi. Vou escolher os meus três favoritos (não estão em ordem de preferência):

1) Valus ( Colosso Nº 1):


Este entrou na minha lista pelo impacto e porque, por ser o primeiro monstro, representou a experiência inicial com a mecânica do jogo e com a dimensão épica do desafio que se apresentava diante de mim. Fiquei literalmente boquiaberto ao terminar de escalar um paredão e depois enxergar um minotauro do tamanho de um prédio, segurando um tacape maior que meu carro e cercado por pássaros que proporcionavam a escala necessária para identificar que se tratava de uma "montanha móvel". A música fechou o clima desta batalha que, apesar de curta, ficou gravada em minha memória gamer para sempre.

2) Gaius (Colosso Nº 4)


O confronto com esse colosso foi marcante porque não só ele é um dos maiores e mais bonitos do jogo, mas também ele exige que se use o ambiente para se ter sucesso na batalha. A cena de você ser atacado por um monstro de mais de 30 metros e desviando dos seus golpes enquanto não sabe o que fazer é algo aterrador num game. Eu caí muitas vezes até descobrir o que fazer e no final me senti vitorioso e recompensado por meu esforço literalmente colossal, algo raro nos jogos atuais.

3) Phalanx (Colosso Nº 13)


Hoje acho uma grande ironia o fato do meu colosso favorito do jogo ser o mais inofensivo de todos. Este talvez seja o único dos monstros que não irá atacar o jogador e o que mais senti "remorso" ao matar. Ao chegar no deserto com Agro e ver essa centopeia gigante sair da areia e se lançar em um vôo silencioso eu vivenciei um dos momentos mais marcantes da minha vida de videogames. Fiquei alguns minutos apenas observando boquiaberto a criatura planando no deserto enquanto tentava decifrar a maneira como enfrentá-lo. Recomendo a todos que não conhecem esse cena:

Depois de ter que usar o cavalo para perseguir o monstro, usar o arco para fazer com que ele desça e pular em uma de suas "asas", a música orquestrada se intensifica e o jogador se encontra em pleno vôo, lutando para se segurar enquanto busca atingir o "inimigo". Só de lembrar eu já sinto vontade de jogar novamente.

Todos esses ingredientes ajudaram a transformar esse jogo em um grande sucesso de crítica do PS2 e a arrebatar uma legião de seguidores. Infelizmente, desde então não tivemos mais nenhum novo jogo de Fumito Ueda durante a vida do PS3, que já está se encerrando. Chegamos a ser tentados com videos e fotos promissores do seu novo projeto, The Last Guardian, mas problemas no desenvolvimento adiaram indefinidamente o game e muito provavelmente foram a causa da saída de Ueda dos estúdios da Sony (ele ainda continua trabalhando no jogo, mas como "terceirizado"). Existem especulações de que o jogo sairá direto no PS4, mas ainda não há nem previsão. Isso em nada diminui o brilho de Shadow of the Colossus e existem boatos de que surja um filme derivado do jogo (só não pode ser dirigido pelo Uwe Boll!).

Quem ainda não experimentou este jogo deveria fazer uma tentativa, pois acho que vale à pena. Recentemente foi lançada uma versão com upscale 1080p e opção de 3D para o PS3, em uma coleção juntamente com o Ico. Mas por favor não leia nenhum guia nem assista tutoriais em videos antes. Esse é um game que precisa ser saboreado em sua forma pura e sem interferência. Você vai passar por dificuldades? Sim! Você vai quase querer desistir? Sim! Mas cada colosso derrotado trará uma satisfação de vitória com a certeza de que você fez por merecer. Derrotar esses gigantes de pedra apelando para ajuda externa seria não só um desrespeito a eles mas principalmente a todos os artistas que trabalharam duro durante quatro anos para trazê-los à vida de uma maneira tão colossal.

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