No NetFlix:Roma(2018)

Considerados como um dos maiores investimentos em grandes nomes para estabelecer um novo nível de produções em canais de streaming, Alfonso Cuarón conseguiu o que queria em sua nova obra? Confira isso e outros detalhes nessa que promete ser um novo marco.

Pior que viagem a praia é sempre tensa mesmo...

Nota IMDb: 8,5 (até o dia da postagem) (IMDb)

Ano de Lançamento: 2018

Diretor: Alfonso Cuarón(que também fez o roteiro, conhecido por E sua Mãe Também, Filhos da Esperança,Gravidade, entre outras obras)

Estrelas:  Yalitza Aparicio(que estreia como a sofrida Cleo), Marina de Tavira(aqui como Sra Sofía, era já conhecida por Efectos secundários(2006), assim como Los árboles mueren de pie(2015)), Verónica García(como a avó Sra Teresa), Jorge Antonio Guerrero(como Fermín), Latin Lover(como o professor Zovek), entre outras estrelas.
Sinopse: Seguindo o ponto de vista de Cleo, vemos um ano conturbado de 70/71 no México, com grandes mudanças e reflexões sobre coisas importantes da vida.

Esse é um filme muito especial para Cuarón, não pelos desafios técnicos como Gravidade, mas pelo valor sentimental dele, mais pessoal, o que muitos críticos veem como um filme feito para ele mesmo, não para o espectador. Porém seria uma maldade considerar um resgate com tamanho cuidado e carinho de uma época, quase como uma viagem a um mundo muito distante, e tudo isso dificilmente seria motivado apenas por uma ego trip. Há uma conexão mais forte desse filme com os latinos, e a nós brasileiros também.

Porque o filme começa com carinho em um mundo simples e ingenuo de Cleo e vai evoluindo, complicando-se, se decepcionando, assustando e resignificando sem cair em armadilhas simples, o que é sem dúvida uma explicação do porquê o filme é em preto e branco, com a fotografia excepcional como esse diretor sabe fazer, que impele em ver mais cores, assim como a protagonista além do preto ou branco da terna idade. E é justa a lembrança do filme brasileiro “Que horas ela chega” também.

O filme, naturalmente, entra na complexa relação das domésticas que eram parte essencial das casas, onde elas acordavam, alimentavam, arrumavam, participavam dos momentos de lazer, levavam a cama as crianças, assistiam os eventuais conflitos conjugais de seus patrões e por fim dormiam para fazer tudo de novo no dia seguinte. E há ainda a importância de 1971 na história do México, com a cena do fogo na floresta, assim como tantas outras no filme, como metáfora de um país que iria mergulhar em uma dívida externa explosiva(parte por causa da primeira parte dos problemas com o Petróleo que afetou o mundo inteiro), problemas com conflitos de terra, entre outros problemas na política mexicana. Só que o filme passa por isso, não ignora, mas não cai na tentação de mostrar isso com mais importante do que o ponto de vista mudano de Cleo. Até o conflito conhecido como "Halconazo" tem todas as peças alí, mas não é o foco do mesmo. Muito mais importante é a diferença de como é tratado o Galaxy e o que ele representa, por exemplo.

Resumindo, estão lá a incrível fotografia(até as cenas de abertura nos créditos iniciais, simples, mas muito bem boladas), a engenharia de som, a reconstrução de toda uma época(com detalhes surpreendentes, como os programas de TV) e o silêncio em momentos valem a classificação de um "filme arte". Para o bem e para o mal, colecionando troféus até o Oscar. E mesmo sendo uma obra com uma série de riscos, com a protagonista estreante, crianças para dirigir(que são naturalmente difíceis), e com um método bizarro de produção(apenas o diretor sabia do script, sendo uma surpresa para todos, inclusive ajudando na intensidade das emoções), não é uma obra para todo o público, sendo um pouco mais arrastado para muitos, contudo, com excelentes momentos de poesia e resgate de algo que explica o título: a conexão, o amor(roma ao contrário) que liga essas pessoas. 

PS:Reparem na camisa de Fermín no dia do protesto.

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